A aba “Atualizações”, uma espécie de puxadinho que tornou o WhatsApp mais parecido com o Facebook e o Instagram em 2017, já atrai 1,5 bilhão de pessoas todos os dias e foi a protagonista do principal evento do aplicativo de mensagens para empresas, o Conversations, realizado na Flórida nesta terça-feira (1º).
Essa seção do aplicativo hospeda os Status (os stories do WhatsApp) e os canais, onde a Meta passará a oferecer publicidade segundo anúncio do último dia 16 —ainda não há data marcada para a atualização. O gigante da tecnologia ainda divulgou que lançará um agente de IA (inteligência artificial) especializado em atender clientes e recomendar produtos dentro do WhatsApp.
As mudanças abrem dois caminhos para a big tech lucrar com o WhatsApp, aplicativo que reuniu cerca de 3 bilhões de usuários oferecendo mensagens privadas de graça: a cobrança por anúncios, o principal negócio da Meta, e a venda de serviços de IA.
Também haverá uma mudança do lado das empresas que contratam o WhatsApp Business e poderão administrar as campanhas publicitárias para WhatsApp, incluindo os disparos de mensagem em massa, Facebook e Instagram em um único gerenciador de anúncios.
A atualização, segundo a Meta, permitirá que as empresas utilizem as mesmas peças publicitárias e configurações de público em todos os aplicativos. “Usaremos IA para entregar essas mensagens aos clientes com maior probabilidade de interesse”, diz a Meta no anúncio.
Embora a big tech diga que nada mudará em termos de compartilhamento de dados entre os aplicativos, considerando que as mensagens do WhatsApp “enviadas a pessoas” continuam protegidas por criptografia e apenas os metadados são compartilhados, especialistas fazem alertas de que o WhatsApp é um ambiente mais complexo a cada dia —há diferentes regras para cada espaço do app.
O diretor-executivo do ITS-Rio (Instituto Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro), Fabro Steibel, recorda que as interações com status de empresas e os canais não têm criptografia ponta a ponta como existe para as conversas entre pessoas. “Por exemplo, o negócio que escolhe usar os serviços da Meta no WhatsApp Business pode ter acesso a todas as mensagens recebidas pelos clientes.”
“A Meta não irá usar automaticamente as mensagens que você envia a um negócio para direcionar os anúncios que você vê, mas os negócios poderão usar os chats que recebem para os próprios objetivos comerciais, incluindo anúncios na Meta”, diz a política de privacidade da empresa. Além disso, alguns podem escolher usar IA da Meta para interagir com o público.
Os padrões de privacidade também são diferentes para as conversas com o assistente inteligente Meta AI.
De acordo com a dona do WhatsApp, as mensagens pessoais, ligações e atualizações de status pessoais continuam protegidas com a criptografia de ponta a ponta. “Isso significa que ninguém, nem mesmo o WhatsApp, pode ler ou ouvir o conteúdo dessas conversas. Não tem nenhuma mudança nesse sentido.”
O conglomerado acrescenta que só poderão ser alvo de campanhas as pessoas que tenham aceitado receber mensagens de marketing de determinada empresa. Os anúncios direcionados em Instagram, Facebook e WhatsApp são a principal fonte de receita da Meta.
Os clientes da Meta poderão usar dados como país, cidade, idioma, além de informações técnicas como o número do telefone e o sistema operacional para personalizar os anúncios com auxílio de inteligência artificial. Essa gama de dados, diz o gigante da tecnologia, ainda é limitada diante de outros aplicativos da empresa.
Os usuários, por sua vez, podem configurar suas preferências de privacidade no WhatsApp na Central de Contas.
Quando divulgou a aba Atualizações, a Meta afirmou que escolheu incluir lá as novidades porque esse é um lugar em que as pessoas estão abertas a novidades.
No evento, a Meta divulgou que, no Brasil, mais de 80% dos adultos online dizem que gostam de receber uma mensagem personalizada sobre produtos, serviços, cupons de desconto e oportunidades de vendas de uma empresa. Os dados constam de pesquisa realizada pela Kantar sob encomenda da big tech.
Por outro lado, mais de 70% das pessoas no mundo dizem ficar incomodadas quando recebem uma mensagem não solicitada.
Além dos anúncios, o WhatsApp acrescentou a possibilidade de as empresas ligarem diretamente para um cliente quando ele solicitar atendimento. “Futuramente, também possibilitaremos o envio e o recebimento de mensagens de voz para suporte adicional ou a realização de uma chamada de vídeo.”
Os anúncios no WhatsApp, com foco nos espaços públicos, lembram a estratégia do Telegram de permitir mensagens impulsionadas em canais públicos com mais de mil assinantes.
A presidente da Signal Foundation (que oferece o app de mensagem privada Signal), Meredith Whitaker, tem criticado as atualizações recentes do WhatsApp e do Telegram. “Nós prometemos: nenhuma confusão com IA, anúncios com vigilância ou qualquer outra prática da concorrência”, escreveu ela no Bluesky.
O iMessage, da Apple, tampouco oferece anúncios, embora a empresa estude acrescentar opções de IA generativa ao aplicativo.
A expansão de anúncios no WhatsApp e de seções sem criptografia vai na direção contrária da promessa de Mark Zuckerberg de manter o aplicativo sem publicidade, feita quando o bilionário selou a compra da atual subsidiária.
As novidades, entretanto, vão ao encontro de perguntas feitas por acionistas da Meta sobre o aplicativo de mensagens na última sessão de divulgação de resultados.
*PEDRO S. TEIXEIRA/foilhapress